Educação a distância: uma nova realidade.
Oscar Hipólito
A cada dia, mais brasileiros se matriculam em cursos de educação a distância (EAD), especialmente no âmbito do ensino superior, o que é uma excelente notícia. De acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2010, a EAD, que praticamente inexistia dez anos atrás, já responde pelo percentual de 14,6% do total das matrículas na graduação. Em 2001, apenas 5.359 estudantes estavam matriculados na modalidade de cursos a distância. Uma década depois, esse número aumentou 170 vezes, chegando a 930.179 estudantes.
Ao contrário do que ocorria em um passado recente, hoje a educação a distância no Brasil não pode mais ser considerada sinônimo de ensino de baixa qualidade. A situação de fato mudou, e muito: os graduados em EAD tiveram, em média, 6,7 pontos a mais no resultado final do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), na comparação com os resultados dos alunos oriundos dos cursos presenciais, conforme revela o “Censo EAD.BR – Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil 2012”, realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).
A verdade é que o advento da internet criou um cenário totalmente novo para a educação a distância. Não se trata mais de realizar os estudos por meio de materiais impressos tradicionalmente enviados aos alunos pelo correio. Com a rede mundial de computadores e demais avanços tecnológicos nas telecomunicações, esse tipo de educação a distância tradicional está em franco declínio.
Hoje, as possibilidades são mais amplas e pode-se fazer um curso a distância praticamente nos mesmos moldes dos presenciais, com os estudantes assistindo, pela internet, às aulas de professores, com exibição de conteúdos audiovisuais. As avaliações podem ser feitas em tempo real, também pela rede, com tempo certo para a sua realização. Tanto a metodologia de ensino como a forma de avaliar a aprendizagem dos alunos e a atuação do corpo docente na educação a distância passaram por uma revolução, e isto está sendo percebido pelos estudantes, que cada vez mais acreditam e demandam essa modalidade de educação.
No exterior, aliás, há uma tendência de fim da fronteira entre educação a distância e presencial: cursos que antes eram exclusivamente presenciais já incluem uma parte realizada remotamente. E os programas de educação a distância muitas vezes abrangem atividades presenciais. No Canadá, país pioneiro da massificação da EAD, seus 32 milhões de cidadãos têm à disposição 56 universidades, das quais 53 oferecem cursos a distância.
No Brasil, o próprio governo federal também percebeu que a educação a distância é realidade e reconhece que o percentual de matrículas ainda é baixo em relação a outros países, onde a modalidade responde por até metade dos estudantes. O ministério da Educação, por outro lado, avisou que está atento à questão e irá controlar, por meio de regulamentação, o crescimento do ensino a distância para evitar que uma “explosão” desta modalidade redunde no aparecimento de cursos de baixa qualidade e sem referências técnica e acadêmica – iniciativa salutar e importante em defesa da formação qualificada do estudante.
O ponto é que, para países continentais como o Canadá e o Brasil, o ensino a distância é uma solução muito interessante. No caso brasileiro, a EAD tem inclusive o potencial de ajudar o País a se consolidar como potência econômica global. Sim, porque depois de todos os avanços dos últimos anos – estabilidade econômica e política, melhoria nas condições de empregabilidade e na renda dos trabalhadores, maior acesso ao crédito e bens de consumo –, que permitiram ao país atravessar duas crises mundiais, há grandes oportunidades para o aperfeiçoamento do conjunto de habilidades de nossas futuras gerações no setor de Educação.
É senso comum que não se constrói uma nação sem educação de qualidade. E o Brasil está no caminho certo ao universalizar a educação fundamental, tarefa em andamento acelerado. Agora é hora de formar profissionais qualificados, com educação superior, para que possam crescer junto com o País. Um dos grandes desafios da educação brasileira, neste momento, está na expansão do ensino superior. É neste sentido que a EAD pode dar uma importante contribuição, ampliando o potencial de acesso dos brasileiros à universidade, especialmente em estados e municípios com maior dificuldade de mobilidade para os estudantes. Estamos em um momento mais do que apropriado para revisitar nossos marcos regulatório, acadêmico e administrativo com o objetivo de apoiar essa tendência favorável no ensino superior.
Zelar pela qualidade do ensino e expandir a oferta de cursos a distância são tarefas essenciais para que o Brasil continue caminhando a passos largos para se tornar um país mais próspero e mais preparado para enfrentar os desafios do seu desenvolvimento.
* Oscar Hipólito é diretor geral acadêmico da Laureate Brasil
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