Belém, 20 de junho de 2013
[Apesar da aflição, da emoção, tento reproduzir nas palavras o que eu vi no ato realizado em Belém do Pará em consonância com os atos nacionais pela redução das tarifas de transportes públicos, pela diminuição da corrupção e outras demais causas populares.]
Após mais de duas horas de caminhada rumo à prefeitura, o protesto que retratou a insatisfações dos cidadãos com a realidade política do país e o valor da passagem do transporte público se posicionou em frente à “casa do povo”, que estava mais do que bem protegida por guardas municipais e policiais militares de batalhões especiais de controle de distúrbios.
A presença do policiamento especializado é sempre necessária e “benéfica” em certas situações, pois a maioria absoluta dos protestantes buscava demonstrar as suas indignações de forma pacífica, porém a primeira confusão ocorreu sem motivo claro e com o que me parecia um ato de livre expressão, foi quando um grupo de jovens tentou colocar nas grades que protegem as janelas do palácio várias faixas e cartazes contendo frases de protesto ao prefeito e de incentivo à massa. A partir de tais atos que aparentemente seriam inofensivos, a polícia ao tentar impedi-los de fixar as faixas e tentar retirá-los causa uma revolta generalizada. Em poucos segundos, observa-se um ovo estourando em um dos pilares do palácio, o que é o estopim para que a Guarda Municipal jogue a primeira bomba no centro dos manifestantes, bomba esta que chegou a estourar a menos de dois metros da minha posição.
Eu não nego, com isso fiquei revoltado, fiquei de joelhos com as mãos para o alto em um pedido de “cessar fogo” e logo voltei para frente da prefeitura, iniciando uma sessão de gritos em coro de “sem violência” com a multidão, demonstrando na minha voz debilitada pelo gás palavras com a minha indignação. Tentei, somente tentei. Mas, logo após alguns minutos, observam-se diversas garrafas plásticas e bolas de papel sendo jogado para dentro da prefeitura, o que gerou um tumulto e faz com que alguns jovens mais exaltados comecem a empurrar os escudos com gritos de ordem. Eu estava próximo, estava com a camisa encharcada de vinagre sobre a cabeça por causa dos últimos acontecimentos, estava com as mãos levantadas justamente para evitar alguma agressão a minha pessoa, mas de nada adiantou, eu levei uma forte substância forte no rosto espirrado por alguém que estava atrás dos escudos, o que fez com que eu corresse com a multidão e, no reflexo e na raiva que me arrependo, jogasse uma pedra que felizmente acertou uma parede do palácio Antonio Lemos sem causar danos. Corri puxando um amigo exaltado pelo efeito das bombas, evitando que ele cometesse algo que prejudicasse o protesto e o futuro dele. A partir daí, permanecemos na lateral da prefeitura, pois percebemos que algo ruim iria ocorrer após os últimos atos da Guarda Municipal.
Após uma segunda dispersão, os protestantes voltam para frente da prefeitura com gritos de ordem como “não afasta” e “uma hora a bomba acaba”, o que causou outra aglomeração de pessoas que antes não estavam alteradas, mas por causa dos efeitos generalizados das bombas, já com ânimos mais exaltados. Na nova aglomeração, a polícia militar entra em cena com o Batalhão de Choque que, por algum motivo que eu desconheço (mas que talvez seja “legítimo”), iniciou uma nova rodada de bombas para dispersar a multidão que exigia a presença do prefeito, o que gerou algumas prisões, mas que não acalmou os ânimos, mas só exaltou.
A multidão volta a se aglomerar em frente ao palácio, mas dessa vez visualiza-se muitíssimos indivíduos portando pedras nas mãos e, após alguns minutos a partir nova aglomeração, inicia-se incansáveis ataques às vidraças e aos escudos dos guardas municipais que revidam com ajuda da PM, fazendo com que uma imensa massa de manifestantes corra para se proteger dos fortes efeitos das bombas lançadas pelas “forças de segurança”. Em uma tentativa de dispersão total, observa-se que os agentes utilizando uma bomba de maior alcance, que parecia cair do céu como fogos de artifícios, forçando várias pessoas a empreenderem fuga pelas ruas do centro comercial da cidade de Belém. Com uma imensa correria, após a explosão das bombas, vários cavalos entram nas ruas em um ato que, para um leigo como eu na ciência dos conflitos urbanos, parecia ser uma ação de caça e captura, mas que talvez somente fosse para evitar atos de vandalismos e saques pelas lojas do comércio – que pelo o que eu soube e vi, não ocorreu, talvez pela ação da polícia ou talvez por consciência dos manifestantes.
Com a polícia e os manifestantes mais calmos, é realizado um isolamento da entrada da prefeitura pelos agentes da Polícia Militar, o que evitou novos conflitos com a Guarda Municipal contendo as tentativas de invasão do palácio Antonio Lemos. Assim se finda, até o fim da minha presença na manifestação (22 horas), os tumultos de manifestantes com as Forças de Segurança Pública.
Sei que as ações – finais - para dispersão total utilizadas pela Polícia Militar do Estado do Pará foram legítimas para combater uma incessante revolta dos participantes do protesto que tiveram os seus motivos somados, mas graças ao mau uso da força da Guarda Municipal de Belém. Porém, não isento as forças policiais de possuírem alguma culpabilidade na tragédia que se concluiu e também não excluo a culpabilidade de alguns manifestantes – estes que cometeram atos pela situação de revolta com a ação policial e com o descaso do prefeito quanto às reivindicações.
O grande problema se situa na falta de um comando efetivamente coerente e bom para realizar uma moderação do uso da força, não realizando atos que atingissem todo o público manifestante, mas apenas aqueles que estavam extrapolando os limites de um protesto “sem violência”.
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